O
viés da confirmação (a tendência de valorizar e interpretar fatos e
estatísticas de modo que confirmem a própria opinião) está atuando com toda a
força nas discussões sobre mudanças no Estatuto do Desarmamento.
Quem
defende ou se opõe à medida, que facilitará a compra e o porte de armas, usa
dados dos mais diversos sobre armas de fogo e violência. O complicado é que há
uma dose de verdade mesmo nas afirmações mais divergentes.
Pode-se
afirmar, por exemplo, que países entre os mais pacíficos do mundo baniram armas
para uso pessoal. É o caso do Japão, onde a taxa de homicídios é de
0,3 por 100 mil habitantes. (No Brasil, há oito armas a cada cem
habitantes, e a taxa de homicídios é de 20 por 100 mil).
Mas
a afirmação contrária também é possível. Alemanha, Suécia e Áustria têm mais 30
armas de fogo por cem habitantes – e taxas baixíssimas de homicídio.
Honduras, o país mais violento do mundo, tem proporcionalmente muito menos
armas (seis a cada cem habitantes).
Armar
a população resulta em mais violência em um país? O economista Daniel
Cerqueira, como mostrou a VEJA desta semana, concluiu que cada ponto percentual
de aumento do número de armas de fogo resulta num crescimento de 2% do número
de vítimas.
Já
Benê Barbosa, autor de Mentiram
para mim sobre o desarmamento, mostra números opostos e igualmente
convincentes. A violência despencou nos Estados Unidos na última década,
enquanto a venda de armas de fogo subiu. No Brasil, os estados mais violentos
são justamente os que possuem menos armas legalizadas.
É
possível ainda que as armas de fogo tenham um efeito ambivalente – aumentem e
ao mesmo tempo diminuam a violência. O maior porte de armas talvez faça crescer
os casos de homicídio e suicídio, mas reduza a taxa de furto, latrocínio e
violência contra a mulher.
Nessa
dança de estatísticas, cada um acredita no que quiser.

0 comentários:
Postar um comentário